Entrevista com o alpinista Rodrigo Rainieri

A natureza não existe somente para ficar registrada em fotografias.

Olhar uma montanha bem alta do chão é diferente da vista lá de cima. Rodrigo Raineri sabe descrever muito bem esta sensação. Ele é alpinista e sua última conquista, realizada em 08 de Janeiro de 2015, foi o Cume do Monte Vinson, a maior montanha do continente Antártico (4.892 m).
Sua expedição durou cerca de três semanas e o percurso até o Vinson contou com -26° C e um vento de 50 km/h que influencia muito na temperatura, chegando a -50° C de sensação térmica (sem vento).
Aluno da Cia Athletica de Campinas, Raineri conta um pouco sobre sua experiência de alpinista.

Quanto tempo durou a expedição do Monte Vinson?


Rodrigo Raineri: Do Brasil até o dia em que eu poderia ter voltado, foram três semanas. Para você chegar na montanha, a logística é enorme. Por exemplo, primeiro você vai para Punta Arenas, no sul do Chile. Lá você pega um avião gigante que precisa de um tempo bom para voar e pousar. Ele pousa no glaciar. É incrível. Ele parece não frear. Vai correndo no gelo, porque se ele frear, pode derrapar. Então, vai diminuindo a velocidade.
Para chegar até o acampamento base, no pé da montanha, você precisa de bom tempo pra pegar um outro avião menor que o leva até o pé da montanha e, aí sim, começa a escalada. Existe uma logística para começar a escalada.
De uma maneira geral, a gente sempre reserva 10 dias extras, por causa do clima. Você não pode marcar a passagem antes, porque se entrar mau tempo, você não consegue voltar.
Um ponto interessante é que lá no Vinson, o sol não se põe, ele roda na sua cabeça. Então, nunca escurece, o dia dura 24 horas. A paisagem de lá é o branco da neve e o branco das montanhas. Às vezes se confunde com o branco das nuvens, então você não consegue identificar onde começa e termina o céu.

“Um ponto interessante é que lá no Vinson, o sol não se põe, ele roda na sua cabeça. Então, nunca escurece, o dia dura 24 horas.”

 
 
 
 

Qual a sensação de alcançar o topo do monte?

Rodrigo Raineri: É muito bacana, pois você se prepara bastante para atingir um objetivo e quando chega lá percebe que deu tudo certo. Além de toda a parte visual, tem a parte emocional, de atingir a meta de sucesso.

Existe alguma preparação psicológica?

Rodrigo Raineri: Tem bastante. Quando você faz um treinamento, as partes física e técnica estão boas, mas a psicológica nem sempre. Se você está estressado, não está bem, não está confiante ou acha que o desafio é muito grande, você não está preparado.
Uma cabeça forte é o que determina o sucesso de uma expedição, principalmente porque passamos por muito desconforto. Eu não gosto de comentar, mas quando fui escalar o Monte McKinley fiquei até 20 dias sem banho. É impossível escalar e tomar banho todo dia porque não há água, apenas gelo. (risos)

O alpinismo foi um sonho?


Rodrigo Raineri:
Eu sempre gostei da natureza e sempre fui do meio do mato, morei em um sítio em Ibitinga (SP). No colegial, fui para as cavernas no PETAR, Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, no Vale do Ribeira (SP), e quando entrei na Faculdade de Engenharia, na Unicamp, montei um grupo para viajar com as pessoas. Fui para Itatiaia (RJ), escalei o Pico das Agulhas Negras, adorei isso e nunca mais parei.
Então, fui fazer meu estágio de engenharia na Holanda. Lá escalei o Mont Blanc e vi que, em 1993, na Europa, os esportes de aventura já eram uma profissão e para ser um guia de montanha você tinha que ter uma faculdade. São cinco anos, é como um médico ou um professor de Educação Física. Você precisa ter um registro para exercer sua profissão. Eu pensei: “poxa, um dia isso vai acontecer no Brasil”. Foi aí que me identifiquei e nada melhor do que pioneirismo, vontade e paixão.

Qual o seu maior medo e sua motivação?

Rodrigo Raineri: Meu maior medo é deixar de fazer as coisas por causa de medo e minha motivação é viver intensamente, aproveitar ao máximo porque a vida é finita.

 
 
 
 
 
 

Qual o melhor e mais bonito local que você visitou até hoje?


Rodrigo Raineri: Impossível dizer. É tudo muito diferente. Existem lugares lindos, montanhas geladas, dunas, cachoeiras, ilhas, enfim, cada um tem sua beleza. Eu acho que o bacana está em você viajar e ter novas experiências. Não é só a beleza do local que conta, tem também o clima e as companhias.
O “gostar” é muito subjetivo. Muitas vezes eu vou escalar com o meu filho, faço uma coisa bem tranquila que dá mais prazer do que se eu estivesse fazendo algo radical sozinho. A beleza do esporte é você estar feliz fazendo o que gosta. Não necessariamente você precisa ser um atleta de ponta para ser feliz.

O que é necessário para começar?

Rodrigo Raineri: Qualquer pessoa pode começar, mas é necessário procurar bons fornecedores ou cursos. O mais importante é começar com segurança, saber o que pode e, principalmente, o que não pode fazer.
Há mais de 20 anos que tenho uma empresa, a Grade 6 e proporciona roteiros para as pessoas fazerem caminhadas, cursos de escalada do nível básico, intermediário, avançado ou primeiros socorros.

Como funciona sua preparação? É diferente de um atleta normal, por ser uma modalidade mais específica?

Rodrigo Raineri: É difícil conciliar as expedições de escalada com o meu trabalho e ainda eu preciso de tempo para treinar, mas nem sempre tenho o tempo que eu gostaria. Eu treino mais para ter saúde do que performance, pois com saúde consigo fazer grandes projetos e grandes escaladas.
Meu preparo físico consiste principalmente em fortalecimento, porque quando eu estou escalando uma montanha, carrego muito peso e acabo me machucando. Na expedição do Monte Vinson, por exemplo, em um dia, eu desci quase 2.000 m com uma mochila de 26 kg nas costas.
O apoio que a Cia Athletica me dá é essencial para as expedições. Já são 15 anos aqui e gosto bastante. Eu sou um cara que não gosta muito de academia, prefiro o ambiente outdoor para correr e pedalar, mas a Cia tem uma infra muito bacana, um ambiente bom e, com todo esse tempo de casa, eu já conheço todo mundo. Isso me dá motivação para continuar treinando.
As coisas mais importantes aqui na Cia Athletica são a parte de fortalecimento e musculação, além da aula de personal com o Ocimar Oliva me orientando. Gosto bastante do yoga, pois é uma questão de respiração, equilíbrio, força estática, relaxamento, além de ajudar a preservar o corpo e a mente.
Meu treino ocorre de acordo com o desafio que tenho pela frente, mas gosto de variar bastante a parte de aeróbico com corridas, transport, bike e natação. O foco em bem-estar é ótimo, é uma preocupação grande a menos. Estou muito bem assessorado aqui.
Quer saber sobre as expedições e palestras do Rodrigo? Acesse o Facebook e o site da Grade 6.

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